segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pekiti Tirsia Kali - Amostra em vídeo.

Esse pequeno vídeo de um documentário da BBC mostra nosso Grand Tuhon Leo Gaje Jr. realizando um treinamento tradicional de facas, mãos livres (slaps) e falando sobre o Pekiti Tirsia Kali.

Destaque para as explicações de algumas particularidades do Pekiti Tirsia Kali, como:

- Drills com ênfase em ataques e não em defesas.
- Ataques visando alvos letais.
- Uso de slaps (tapas) e não de socos.
- Continuidade dos golpes, para não dar a chance do adversário contra-atacar.

"Knowing the knife or blade weapon will save your life!" - Palavras do Grand Tuhon Leo Gaje Jr.


Fonte: PTK.MG . 18.10.2013

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

As “desconhecidas” Artes Marciais Filipinas – IV

AS ARMAS DO KALI

Quando alguém resolve treinar Artes Marciais Filipinas, começa aprendendo a movimentar-se corretamente [“footwork”], o que, nas diversas Escolas de Kali, é considerado de suma importância, porque o correto desenvolvimento de todas as técnicas passa pela aquisição de uma boa capacidade de deslocar-se, posicionar-se adequadamente e reposicionar-se, de modo poder agir e inibir a ação do oponente com eficácia, ou seja, atuar ofensiva e defensivamente. Um bom footwork pode, de fato, numa situação real, representar a diferença entre a vida e a morte. 

Mas, antes que você possa pensar que vai passar anos apenas “andando de um lado para o outro em formatos geométricos”, num processo monótono e desanimador, informamos que no Kali não é assim. Junto com a movimentação você aprende técnicas de bastão, primeiro com apenas uma arma [solo baston ou solo yantok]. Treina tanto com a mão dominante, quanto com a mão fraca. Trabalha para integrar os deslocamentos com a aplicação do bastão, até que se torne fácil e natural fazê-lo. A evolução nessa fase é marcada pelo uso de um só instrumento. Ao bastão se segue a faca... Depois aprende a trabalhar com duas armas e por aí vai. Paralelamente, técnicas de mãos vazias vão sendo transmitidas ao estudante, seguindo conceitos específicos ou baseados na “transferibilidade” [ajustamento, quando cabível, de técnicas com armas ao uso de mãos nuas].

Após essa breve explicação, apresentemos as armas do Kali. Ei-las:

Bastão [Baston ou Yantok] – Arma indissociável dos aspectos didáticos da arte. Em suas origens, nas Filipinas, tradicionalmente utiliza-se o bastão feito de Rattan, um tipo de cipó nativo daquela região, que, após tratamento térmico, adquire a forma típica da arma. O Rattan é extremamente leve e resistente; sua aparência lembra o bambu, por causa dos nós que apresenta, porém é maciço, e, ao se quebrar, não produz farpas ou lascas pontiagudas. Mas o bastão de treinamento não se limita a esse tipo tradicional. Ele pode ser fabricado com diversos materiais resistentes, que são mais comuns e acessíveis em nosso país. Em relação às demais características, a arma varia em comprimento, entre sessenta e oitenta centímetros em média, dependendo dos parâmetros adotados por cada Escola. O diâmetro mais comum [e confortável de empunhar] é de cerca de 25 mm. Nós adotamos os feitos de Nylon ou Polietileno Alta Densidade [PEAD], por serem altamente resistentes, fáceis de encontrar e de baixo custo.
Armas do Kali - Bastões de Rattan
Tradicionais bastões de Rattan


Armas do Kali - Bastões plásticos e Bastão tático de mola
Bastões de treinamento em Nylon
 Bastão retrátil ["tático"] 



 
Faca [Daga] – No passado uma típica arma, hoje considerada mais uma ferramenta, a faca é instrumento que conta com uma das maiores variedades de design, tamanho e funcionalidades que existe. A faca, a despeito de se apresentar em amplas variedades, preserva suas características fundamentais [cabo, gume e ponta] desde os primórdios da civilização. Teoricamente, desde que não seja exageradamente pequena, a ponto de não se prestar para o combate, ou grande, a ponto de se tornar outra categoria de lâmina, como espada ou facão, qualquer faca serve para o Kali. Mas é preferível pautar-se o estudante pelos modelos chamados “facas de combate”, por causa de suas qualidades [empunhadura anatômica, grande resistência, boa manutenção de corte e confiabilidade como ferramenta] mais adequados adequados ao treinamento marcial e, eventualmente, a aplicações reais [não só combate como de sobrevivência]. Antes que você se assuste, amigo leitor, esclarecemos que, embora as técnicas que você aprenderá sejam pautadas no uso real da faca, em combate ou defesa, os treinamentos se dão com facas de materiais seguros, como borracha, madeira, metais leves [sem corte] ou espuma densa, e com uso de óculos de proteção. Pode treinar sossegado...

Armas do Kali - Facas de treinamento em borracha e acrílico
"Dagas" de treinamento - borracha e acrílico


Armas do Kali - Facas diversos modelos
Modelos reais diversos






Facão – Entre as lâminas longas mais famosas destacam-se as espadas, rodeadas de arte e de lendas, cujo uso não tem sentido prático nos tempos atuais. Por isso nos referimos às lâminas longas mais comuns, destacando aqui o bom e velho facão. Além desse, por mera aproximação e pela mecânica corporal aplicada no manejo, podemos incluir entre as lâminas longas alguns tipos de facas de grande porte, como a Kukri nepalesa, as Bowies “gigantes” de caça, etc, que são mais adequadas para golpes amplos, cortantes, de trajetória circular. Caso deseje conhecer [e mesmo comprar] as belas e magníficas lâminas filipinas tradicionais, como o Ginunting, o Kampilan e o Barong, indicamos o site traditionalfilipinoweapons.com. Esse site deixa a gente com vontade de ter uma...



Armas do Kali - Facões substitutos das lâminas tradicionais
O bom e velho facão de mato... 


Armas do Kali - Barong lâmina tradicional filipina
Barong - Lâmina tradicional Filipina


Armas do Kali - Ginunting lâmina tradicional filipina
Ginunting - Lâmina tradicional Filipina






Karambit – Se você acompanha nossos textos, já deve saber, pelo menos de vista, o que é um Karambit. Considerada, ao lado da Kukri nepalesa, uma das facas mais eficientes como instrumento de combate, trata-se de uma lâmina “diferente” e praticamente desconhecida no Brasil. Sua origem é indonésia, embora tenha sido incorporada há séculos ao arsenal filipino tradicional. Seu nome significa, conforme fontes facilmente encontráveis na web, algo como “garra de tigre”, devido ao seu formato peculiar. Ela conta com um anel na extremidade do cabo e sua lâmina é curva como uma garra. Usada em combate a curtíssima distância, exige treinamento específico, de modo que não venha a ferir quem a maneja. Devido ao design, o Karambit [ou Kerambit], usado com propriedade e conhecimento, revela-se extremamente eficaz, mesmo quando a arma tem tamanho bem diminuto. Quem já assistiu a algum documentário sobre grandes felinos sabe em que estado fica a presa abatida sob as garras do predador. O efeito do Karambit é bem semelhante...


Armas do Kali - Karambit modelos diversos
Três modelos de Karambit



Armas do Kali - Karambit artesanal feito por estudante Kali MG
Karambit artesanal - Feito por um estudante




Armas do Kali - Karambit de treinamento
Modelos de treinamento em PVC e Acrílico






Chicote [Latigo] – Também denominado “látego”, em bom Português, trata-se de uma arma flexível, destinada essencialmente a contundir, que se apresenta em diversas configurações e tamanhos. Alguns se assemelham a bastões flexíveis, como o Sjambok sul-africano; outros são curtos e dotados de cabos, como as famosas “tacas” e os “relhos”, muito comuns ao interior do Brasil; outros são longos, como o “chicote de estalar”, do tipo “Indiana Jones”, e por aí vai, conforme sua origem. Adotamos nos treinamentos o chicote longo, arma que exige bastante estudo para dominar, geralmente usada como apoio, em conjunto com a faca [chicote em uma das mãos e faca na outra]. Como citado acima, existem muitas variedades da arma, como o “chicote de corda”, e aquele chicote que é “a cara da crueldade” [um tipo de relho cortante, que era usado para castigos severos no velho Império Romano...]. Exemplos podem ser melhor vistos e conhecidos nesta obra: The Filipino Whip [O Chicote Filipino], que você encontra listado em nossas sugestões de leitura - ao lado - livro em Inglês. Para finalizar sobre o “Latigo”, respondemos a uma possível pergunta: Para que treinar com chicote? A resposta é: Primeiro, e mais importante, para aprender a lidar com movimentos complexos e de controle difícil, que favorecerão em muito sua coordenação motora. Segundo, pode ser que, numa situação real você não tenha um chicote ao alcance das mãos, mas, quem sabe, um pedaço de corda, ou de corrente, possam estar por perto...? Outra possível pergunta recai sobre a potencialidade “mortal” do chicote. Embora essa arma seja fascinante e tenha lá seus entusiastas, e dentre esses possa haver quem apregoe que é uma arma “letal”, consideramos que se trata de um instrumento de baixa letalidade, destinada mais a ferir, a dissuadir pela dor, a dar cobertura [mantendo os oponentes à distância] durante um confronto. Entretanto, devemos considerar que há chicotes [especialmente os mais curtos] capazes de provocar ferimentos seríssimos e potencialmente letais, a exemplo do Sjambok, aludido acima, que na África do Sul, nos tempos do tenebroso Apartheid, era aplicado “sem cerimônias” pelas forças policiais, para reprimir “desordens” civis.


Armas do Kali - Chicote ou Latigo




Dulo-dulo – Trata-se de um pequenino bastão, de design variado, cujo comprimento pouco escapa da palma da mão, por isto chamado ainda “palm stick” [bastão de mão, literalmente]. Arma muito eficaz e discreta, naturalmente incorporada às técnicas de mãos vazias. É altamente adaptável [por transferência] a algumas técnicas de bastão e de faca. O dulo-dulo é usado para contundir, controlar e imobilizar, atuando sobre feixes musculares ou nervosos, podendo mesmo causar fraturas em ossos mais expostos [como os cranianos], dependendo do material com o qual seja feito. Extremamente eficaz quando devidamente utilizado, talvez seja dentre todas a arma mais fácil de se improvisar em caso de emergência, pois, uma vez que se saiba utilizá-lo, até mesmo uma caneta, um telefone celular, uma escova de cabelo, uma pequena lanterna, ou outro objeto de pequenas dimensões pode ser usado como a arma original.


Armas do Kali - Dulo-dulo
Dulo-dulo em PEAD e artesanal, feito por um membro da AMK



Existe uma grande variedade de armas no universo das Artes Marciais Filipinas e do Pencak Silat [arte marcial irmã, predominante na Indonésia, Malásia e Brunei], dentre lâminas e de impacto, como o bastão longo [sibat], o Kris [ou Keris: aquela lâmina sinuosa típica da Malásia] e a famosa Balisong [ou Butterfly] aquela faquinha articulada, muito usada em manobras rápidas e “acrobáticas”, algumas com certa função prática e outras como mero exercício de habilidade e coordenação. Neste texto procuramos nos restringir ao armamento mais comum e funcional, considerando os instrumentos que sejam mais acessíveis ao estudante de Kali, pois, como disse um amigo, se as armas são o “arroz com feijão” da arte, elas devem estar ligadas ao dia a dia do praticante.


Armas do Kali - Balisong


Armas do Kali - Balisong
Balisong





Ainda sobre armas, vale salientar que muitas [mas, nem todas] técnicas do Kali são altamente adaptativas por “transferibilidade”, pois, a exemplo do dulo-dulo, podem as mesmas ser aplicadas com as chamadas “armas impróprias”, que são as improvisadas [o que é muito útil numa situação de defesa pessoal], de maneira que, uma vez tendo aprendido satisfatoriamente as técnicas, por exemplo, de bastão, nada impede que, como tal, seja utilizada uma bengala, um guarda-chuva, ou uma revista enrolada. Um simples abridor de cartas, ou uma chave-de-fenda, podem ser usados com técnicas de faca e assim por diante, inclusive com as mãos vazias [pois o movimento é a alma da técnica]. Quem já assistiu ao filme “A identidade Bourne” teve a oportunidade de ver Kali aplicado com uma caneta servindo de arma numa das lutas... Sim, o Kali foi utilizado nas principais sequências de luta do filme, assim como em vários outros [confira na lista ao lado].

Na próxima postagem trataremos das técnicas de mãos vazias. Não deixe de conferir!

Mabuhay!


R.Teixeira


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