segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Um "monstrinho" para levar no bolso


Um dia você acorda e tem a ideia de que um objeto discreto, pequeno, que cabe na palma da mão, pode ser o ideal para usar numa situação do tipo "caso eu precise me defender". Aí você abre o Aliexpress e se encanta por toda sorte de opções. Depois, você conversa com amigos (que não utilizam tais armas, ou que as portam mas não treinam nada) e eles opinam, conforme a impressão que têm de cada espécie de arma, sob uma influência imaginária, induzida por vídeos do YouTube.

Então, você escolhe e compra. Depois sai por aí, todo pimpão, com seu "monstrinho" de bolso, totalmente legal. Sai caminhando firme, na certeza de que se dará bem no caso de uma eventual agressão. Aí começa o engano...

Bom, primeiro, se você não sabe lutar, essas armas não vão ajudar, podendo mesmo "complicar" (imagine só, você levando uma surra com seu próprio artefato). Depois, se você sabe lutar, pode vir a supor que basta empunhar a arma e usar as técnicas aprendidas na arte marcial que você já pratica, pela qual já participou de muitas competições e venceu... Só que isso não é bem assim. Não tratamos de esportes marciais, mas de possíveis confrontos reais. E o que pode parecer uma simples adaptação, na verdade é uma integração, um processo de educação mais profundo.

Como praticantes de artes de combate baseadas (e com forte ênfase) no uso de armas, os estudantes de Kali, Pencak Silat e Krav-magá percebem que, logo que começam a aprender as técnicas com uma determinada arma, uma das coisas que aparece é uma necessidade de ajustes, para não ser atingido pela própria arma e para que ela não migre para as mãos do oponente. Isso é muito comum, pode crer. No Kali, por exemplo, há exercícios aprendidos com bastão, mas que se executados com um facão podem (facilmente) resultar em cortes sérios no estudante que as executa. Logo, os ajustes finos surgem, como uma exigência de refinamento técnico.

Isso se aplica a todas as armas. As pequenas armas contundentes podem acertar você mesmo, especialmente nas áreas de transição de movimentos, como cotovelos, antebraços e mesmo no rosto, pois na aplicação de golpes fluidos uma mão pode "atropelar" a outra, atingindo o outro braço. Além disso, no retorno do movimento, a cabeça pode "estar no caminho". Logo, apesar de muitas técnicas comportarem um "potencial de transferibilidade", isto é de se embasarem na mecânica geral da arte, as peculiaridades da arma demandam ajustes. Exemplo disto é a aptidão das Karambits em ferir a mão viva (desarmada) de quem a empunha e não treina movimentação adequada. Mas, nosso assunto agora são armas pequenas e contundentes...

No campo da aplicação efetiva, outro fator deve ser mantido em mente. Você, dificilmente, derrubará um oponente com um único golpe, daqueles cinematográficos. A ação exigirá agressividade, logo, muitos golpes, sem intervalos, rápidos, potentes e decididos, sem dúvidas ou pausas mentais para avaliar. É tudo ou nada! É sobreviver ou não! Sua capacidade é que estará em jogo e não o suposto poder da pequenina arma, cuja eficácia depende 100% de sua aptidão.

A arma pequena e impactante é apenas uma extensão de seu poder pessoal, de sua capacidade de se movimentar e agir. Uma extensão valiosa, sem dúvida, mas depende de você, mais do que dependeria uma arma de fogo, um bastão, uma faca. Por motivos simples: a luta com apoio de tais armas está mais próxima da realidade do combate desarmado do que da luta com armas que trazem "poderes" em si mesmas, como um projétil, um fio de lâmina, ou a inércia e a massa de um bastão.

A esta altura do texto você pode pensar que o autor está querendo persuadir você a praticar Pekiti Tirsia Kali, Pencak Silat, Krav-magá. E você tem razão ao pensar isto. Tal intenção existe. Mas não à toa. É por causa da natureza dessas artes, voltadas para a dura realidade dos chamados combates aproximados e das ditas "lutas corporais". Porém, não existe a intenção de desvalorizar ou subestimar qualquer arte marcial, de forma alguma. Pelo contrário, se você pratica ou ensina qualquer das artes mais conhecidas do grande público, considere que as nossas sejam um tipo de extensão no aprendizado, como uma "pós graduação", que vai somar e abrir novas possibilidades para o conhecimento aplicado de sua própria arte. Tanto isto é verdade que não faremos "estudos comparados" da abordagem de uso das armas nesta ou naquela arte marcial. Cada qual tem seus aspectos próprios e sua própria expressão. O respeito pelo conhecimento pauta nosso pensamento.

Vamos, então, apresentar algumas armas pequenas e contundentes, comuns em nosso meio...



Dulo-dulo, ou Kubotan, ou "Yawara*" (chalmado, também, "Palm Stick"):

Basicamente é um bastão que ultrapassa um pouquinho só a palma da mão, deixando uma ou duas extremidades de fora. Serve para bater, sob a mesma mecânica que utilizamos com mãos vazias (tapas e martelos). A ponta potencializa os golpes, tornando-os mais efetivos. Serve, também, para controlar os golpes do oponente, puxando e redirecionando seus movimentos. Nos grapplings, na aplicação de uma chave, são ótimos para "aumentar a pressão" e facilitar o controle do adversário.

Talvez sejam as armas que contem com a mais ampla gama de design no gênero. Uma ou duas pontas, materiais variados, formatos elegantes, artísticos e até mesmo inusitados são fáceis de encontrar para esses pequeninos bastões. As populares canetas táticas são exemplos interessantes dessa variação. Canetas feitas em alumínio (no mais das vezes), que discretamente acompanham seus donos.

*Yawara - Temos o máximo de preconceito possível contra essa denominação, graças a uns sujeitos que, há tempos apareceram nos círculos esportivos com uma tal de "arte-marcial-invencível-horrível-superdolorível" chamada "yawara". Bom, deixa pra lá... Pesquise quem quiser...








Soco inglês, ou Knucle Duster, ou Buku Lima:

Infelizmente, arma "marginalizada", mal vista porque é associada a baderneiros, arruaceiros, criadores de encrenca e outros tipos de escória briguenta. Mas não é uma arma ilegal, como muitos imaginam e como muitos querem fazer crer. Tampouco merece ser desprezada, especialmente se você treina Pencak Silat, Pangamut do Pekiti Tirsia Kali ou Panantukan. 

Em geral possuem aquele design "clássico", que já indica sua (única) finalidade. Porém, existem modelos discretos desse conceito de arma, mais dissimulados por designs muito criativos. Podem ser encontrados em vários materiais, como polímeros e madeira, por exemplo.





 É claro que sabemos que é um  tipo de suporte, ou steady cam. Mas, só para não perder a piada: Nem dá pra notar... Deve ser "tático", ou próprio para legítima defesa (já faz o registro)



Monkey fist:

Aquelas bolinhas "bonitinhas", de aço ou chumbo, de tamanhos variados, artisticamente embrulhadas com Paracord... Podem ser portadas como chaveiros e adereços. São como aquelas Maças medievais, porém em miniatura. Servem para golpear. Sua eficácia depende de fatores como densidade, tamanho e peso (massa) da esfera em seu núcleo. Pessoalmente, acho legal, tenho, mas não ponho muita confiança...





Lanternas táticas:

Essas, sim, são armas de "responsa". Além de úteis para iluminar, servem para cegar temporariamente o adversário, desorientando-o e dando oportunidade para evasão, ou para despejar nele uma chuva de pancadas.

Há lanternas para todos os gostos, necessidades e bolsos. Quando digo bolsos, me refiro aos preços, uma vez que grande parte delas é de bolso. Mas as lanternas táticas, por execelência, não costumam ser aquelas facilmente encontradas no Aliexpress, que prometem 200.000.000 de lúmens e 10.000 horas de bateria, por apenas cinco dólares. Não... Você pode até encontrar uma boa, mas dificilmente terá as características de uma lanterna tática propriamente dita. E quais seriam essas características...?

São robustas, sólidas, com potências realmente altas (800, 1000 lúmens ou mais), gastam bateria loucamente (muitas contam com modos econômicos, para uso geral), podem possuir modo estroboscópico, muitas têm bisel (aquela borda para golpear), e muitas são adaptáveis a acessórios para acoplar em armas de fogo.

Quer comprar uma? Procure fabricantes de boa reputação, pesquise os modelos, assista análises no YouTube e prepare o bolso, pois uma lanterna tática de qualidade, mesmo sendo acessível, não é um item dos mais baratos. Existem umas de sessenta dólares e outras que chegam a duzentos, todas muito boas.


Esta aqui toca fogo nas coisas. Flash Torch (Wicked Lasers). Bacana, mas não dá pra levar à sério.





Finalizando, estas são algumas opções no mundo das pequenas armas contundentes. Todas muito interessantes e efetivas. Contudo, se você não treinar (física, técnica e mentalmente) nenhuma delas irá te ajudar a salvar a pele numa encrenca. Pedir a Deus que te proteja, antes de tudo, e treinar, treinar, treinar...



NOTA - Como disse, nesse mundo de pequenas coisas para bater nos outros o que não falta é criatividade. Muitas ideias interessantes, ao lado de bizarrices e "reinvenções da roda". Alguns exemplos abaixo...


O do alto à esquerda parace ter saído de uma sex shop. À esquerda deste um tipo de spinner que não roda, chique, todo brilhoso. Abaixo à esquerda, um tipo híbrido de chave sextavada com alça de caneca. À direita inferior, parecendo uma ferramenta, um "karandulo".  Haja imaginação!

Agora, sim, o texto acabou. 

Obrigado. Até a próxima.

Mabuhay!