segunda-feira, 1 de abril de 2024

Porque praticar Arnis Kali - Parte 3/3


Existem torneios e competições? Eles fazem parte do currículo?

Isto também representa uma enorme variável no universo das FMA, pois há Escolas que valorizam as competições visando promover aspectos esportivos da arte, enquanto outras Escolas não consideram a competitividade como aspecto relevante. Ambas as perspectivas são igualmente válidas e amplamente discutíveis. 

Particularmente, consideramos que a natureza do Kali não é desportiva, motivo pelo qual não incentivamos tais atividades, pelo que, caro leitor, você [que talvez possa ser um entusiasta dos torneios de artes marciais] se pergunte qual seria razão. A resposta está ligada a alguns fatores simples, o primeiro deles histórico: o Kali é nascido da guerra, logo é uma arte voltada para situações reais de confronto. Outro motivo é que, para moldar-se a limitações e regras desportivas, uma arte marcial deve necessariamente se despir de algumas de suas características mais importantes, como ocorreu por exemplo com o Taekwon-do e o Karate-do, a fim de que pudessem ser admitidos como esportes olímpicos, coisa que não vemos com bons olhos quando se trata de artes marciais...

Acreditamos que tais adaptações esportivas, ao suprimirem técnicas e com isso a liberdade de ação do “competidor”, com o tempo acabam por determinar para ao praticante novos condicionamentos que se podem consolidar em restrições inconscientes no campo da ação. Limitações perigosas, que poderão ser muito prejudiciais e até fatais caso a arte tenha que ser invocada numa situação hostil de verdade. 

Ora, não cremos que seja adequado condicionar uma arte baseada na ideia de sobrevivência a comportamentos que acabarão por restringir as capacidades do aluno, conduzindo-o a deixar de ser um artista marcial, com pleno conhecimento de uma arte íntegra e integral, para se tornar alguém que tenha como foco de treinamento apenas determinadas técnicas desportivamente admitidas. 

Cabe, contudo, esclarecer que sim, costumamos promover lutas em nossos círculos de treinamento. Nunca para “provar” uma falsa, tola e imatura ideia de superioridade individual mas, essencialmente, para aprimorar a habilidade pessoal, para aplicar as técnicas aprendidas e estudadas, para desenvolver agilidade, para aprimorar os reflexos e a coordenação motora, para melhorar e beneficiar a condição física e aeróbica dos estudantes, para adestrar a mente e o corpo ao enfrentamento de tensões e para refinar a capacidade de tomar decisões em qualquer contexto. 

Enfim, a luta serve para ajudar no desenvolvimento global, inclusive no campo interno, o das Virtudes, pois nos “combates” o estudante pode conhecer melhor a si mesmo, identificando as próprias deficiências, aprendendo a superá-las, incorporando assim a humildade, o discernimento, a segurança, a paciência, a tolerância e a perseverança, tão necessárias ao enfrentamento das situações comuns à vida cotidiana. Ainda, cabe dizer que nossos “confrontos” são realizados com uso de equipamentos de proteção individual [EPI], sobretudo óculos e armamento adequado [bastões espumados, facas de material emborrachado ou espuma densa, luvas, etc]. Pode lutar sem susto, caro leitor!


No âmbito do K1307), ressaltamos, as práticas combativas permanecem voltadas exclusivamente para o aprimoramento geral dos estudantes. Nessas ocasiões que cada qual pode aplicar os conhecimentos adquiridos, perceber suas próprias dificuldades, corrigir falhas e “testar” as próprias habilidades, exercitando seu “espírito guerreiro” num clima saudável e descontraído, onde predomina a amizade.

Mabuhay!

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